29/09/2005

FALTA DE PERSPECTIVA

 

A sensação que estamos vivendo é de que não sabemos onde estamos indo. Estamos sendo empurrados por uma multidão desesperada, com fome e sede, pronta para debandar e abandonar os ideais do desenvolvimento. Depois de tanto desgosto e sem perspectiva de futuro, a psicologia explica o processo de autodestruição.

Uma vez num processo de reconhecimento, indaguei a um delinqüente os motivos que  o levaram a uma atitude criminosa. A sua resposta pronta e com autoridade foi de que a ele não restava mais nada; não tinha família, emprego, roupa e matar ou morrer era a mesma coisa.

Em tão pouco tempo a nossa sensação é de que não temos para onde ir e os nossos relacionamentos sociais e comerciais estão sendo questionados, restando o refúgio familiar que a união de maior afinidade – início e fim da existência.

O Brasil como um todo, não tem plano recente – demonstra ter planos antigos, ortodoxos é verdade, mas que não se renovaram. A Agricultura é ainda um pilar do comércio exterior, fruto de um trabalho de muito tempo, que felizmente ainda encontra colocação de seus produtos e retorno aos parcos investimentos do passado. A indústria, mercê de algumas ações isoladas na busca de tecnologia estrangeira, porque a nacional não existe, tanto pela falta de iniciativa pública, quanto pela falta de recursos privados. Tem sido mais fácil copiar do que desenvolver.

Ter metas não significa ter planos. Metas de níveis de inflação, de concerto de superávit primário, metas de colocar todos na escola, de dar cesta básica ou acabar com a fome, não significa que sabemos como atingir estes objetivos.

Os Brasil não têm planos, e como tal, podemos trazer que a maioria dos governos estadual e municipal também não tem plana. Basta reduzir um pouco as receitas que não existe um plano alternativo para a manutenção do desenvolvimento.

 A carga tributária não é a maior do mundo, mas quase, ou seja, 38 ou 41% do PIB não faz muita diferença; e o que preocupa é que não tem perspectiva de redução e os problemas sociais estão se agravando.

Esperar para uma próxima eleição para escolher nossos representantes tem sido o consolo do eleitor. Eleger quem? Nossos representantes têm capacidade para pensar o futuro social das comunidades? É muita pretensão colocar nosso futuro nas mãos de alguns vereadores, alguns deputados ou mesmo senadores. A lei de Gerson nunca foi tão usada como agora.

Sair esbravejando e externalizando as indignações tão somente não parece ser uma boa saída. Pode ser um início. Temos que apresentar planos, maneiras de como atingir nossas metas, se é que temos metas públicas.

Uma comunidade se sustenta de idéias quando tem órgãos consultores, aconselhadores, produtores de dados científicos, possibilitando a sugestão, criação de novas técnicas adequadas ao meio – e não copiadas. Precisamos de pessoas acostumadas a pensar, criar, analisar, interpretar situações de desconforto, para que se proponham soluções.

Há quanto tempo assistimos dificuldades identificadas há muito e pouco ou nada foi feito. Esperaremos para a próxima eleição, para o próximo, o seguinte...

Também nos acostumamos a culpar os executores, mas devemos nos lembrar que quem fez a constituição não foi o presidente, quem estrangulou o orçamento estadual não foi o governador, e a liberdade dada aos governantes municipais foi sim à população, outorgando procuração aos vereadores.

A saída é a criação de grande número de órgãos consultores e formadores de opinião, criando fóruns específicos onde se possa discutir políticas públicas. Caso contrário, seremos eternos queixosos.

Enio Gehlen – Economista e Contador
GEHLEN CONSULTORES
http://www.gehlenconsultores.com.br

 

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