15/09/2005

Comércio de Bento (II)

Todos nós alimentamos sonhos e muitos deles realizamos, mesmo aqueles que em tempos idos jamais tínhamos imaginado.

Ser dono do seu próprio negócio tem sido um sonho muito exercitado e na primeira oportunidade nos lançamos de corpo e alma no empreendimento. Incentivados pela ilusão dos impostos baixos para os microempresários, crédito fácil e até pela exteriorização de bem estar por muitos, achamos que também temos o direito de alcançar o sucesso empresarial. Falamos neste artigo, do microempresário, responsável por mais de duas mil inscrições em nosso município.

Diante da possibilidade, juntamos nosso Fundo de Garantia, nossas economias e iniciamos nosso comércio, num ponto relativamente central, que aliado a nossa experiência de balconista ou de amigos que passaram no ramo, pensamos saber tudo de comércio como se fosse só “copiar e colar”, como no computador.

De início, praticamente investimos tudo o que temos nas instalações e financiamos o estoque, exemplo tomado para uma pequena loja de confecções. Gastamos 10 mil reais em instalações e nos resta 10 mil para estocar. Mal sabemos que para cobrir um custo fixo entre aluguel, publicidade, luz, água, telefone, material de administração, ordenado de um funcionário com seus encargos e nosso pró-labore gastamos mensalmente 4 mil reais no mínimo.

A margem de lucro bruto aplicado sobre as compras que imaginávamos de sessenta por cento são insuficientes para lucrar os nossos custos fixos, nos níveis realizados nos primeiros meses. Então, subimos o percentual para 80% e nossas vendas praticamente não aumentam, e até, diminuem, pois começamos a ficar fora da concorrência.

Com esta margem, para suportar um custo fixo de 4 mil mensais, nossa venda tem que ser no mínimo de R$ 12 mil reais, e para realizar esta venda, temos que ter de estoque, dependendo do ramo de confecções, em média de 25 mil reais. Não consideramos aqui, que vestuário tem duas estações bem definidas, e que a programação de compra depende de cadastro, conhecer o fornecedor e se alistar na exclusividade, coisa que quem não tem tradição fica praticamente impossível.

A esse nível de venda (12 mil reais) não temos lucro, que para atingirmos um lucro de 10% sobre as vendas, os níveis de vendas se elevam para 17 mil reais mensais, ficando ainda mais difícil para competir no mercado.

Com níveis baixos de faturamento, ou trabalhamos num segmento que suportam os níveis de preços elevados (produtos elitizados) ou trabalhamos com volume de negócios (economia de escala), baixando assim as margens.

Pois bem, como contestar todos os programas incentivando o empreendedor que existem, principalmente quando as estatísticas dizem que o Brasil é o sexto país em empreendedorismo.

Só existe uma maneira para diminuir a mortandade de empresas deste porte anunciada pelo SEBRAE, que é capacitar estes empreendedores. As informações existem e as técnicas também, desde pesquisa de mercado até treinamento de colaboradores.

Se espelhar em quem já está estabelecido é um paradigma muito ilusório, pois em negócios pequenos, a figura do comerciante é decisivo e fundamental no sucesso. Nenhum produto vende por si por muito tempo, pois copiar e imitar tem sido o que mais se faz neste mundo de comunicação global.

Portanto, minimize a margem de erros buscando assessoramento, informações, observar e fazer uma leitura com olhos realistas, deixando um pouco de lado o excesso de otimismo e imaginar que temos habilidade para tudo, mas sem deixar de buscar a realização de nosso sonho. Persistência deve deixar lugar a perseverança, que é mais racional.

E não falamos aqui de mercado.

 

Enio Gehlen – Economista e Contador
GEHLEN CONSULTORES
http://www.gehlenconsultores.com.br

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